segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O Inferno

O conceito popular de inferno é o de um lugar de punição para almas imortais pecadoras após a morte, ou o lugar de tormento para aqueles que são condenados no dia do julgamento. Entretanto o que a Bíblia descreve como inferno é a sepultura, para onde todos vão após a morte.

A palavra Hebraica "sheol", traduzida "inferno", significa "um lugar coberto". Biblicamente, este "lugar coberto" é a sepultura. Existem muitos exemplos onde a palavra "sheol" é traduzida para sepultura. Em algumas bíblias modernas a palavra inferno já não é mais encontrada, traduzida mais apropriadamente para sepultura. Um simples exemplo que mostra o verdadeiro significado da palavra "sheol" já é suficiente para derrubar o conceito popular referente à um lugar de fogo e tormento para ímpios, entretando, temos na Bíblia não apenas um, más vários exemplos.

"Deixa confundidos os ímpios, e emudeçam na sepultura [sheol]" Sal. 31:17 - Eles vão estar gritando em agonia lá no sheol?

"Deus remirá a minha alma do poder da sepultura [sheol], pois me receberá" Sal. 49:15 - Ou seja, a alma de Davi vai ressuscitar da sepultura, não do inferno.

A crença que o inferno é um lugar de punição para ímpios de onde não podem escapar não combina com estes versículos; Um homem justo pode ir pra o "sheol" e voltar de lá (na ressurreição). Oseias 13:14 confirma isto: "Eu os remirei (o povo de Deus) da mão do "sheol", e os resgatarei da morte". Isto é repetido em 1 Cor. 15:55 e aplicado à ressurreição no retorno de Cristo. Da mesma maneira, na visão da segunda ressurreição, "a morte e a sepultura [sheol] entregaram os mortos que estavam neles" (Apo. 20:13). Note o paralelo entre morte e sepultura. (veja também salm. 6:5)

"A oração de Ana em 1 Sam 2:6 é muito clara: "O SENHOR é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz subir".

Visto que "inferno" é a sepultura, deve-se esperar que o justo seja salvo disto através de sua ressurreição para a vida eterna. Portanto é possível entrar no "sheol", na sepultura, e depois deixá-la através da ressurreição. Jesus é maior exemplo disto, pois "sua alma não foi deixada no "sheol", nem sua carne viu corrupção" (Atos 2:31) porque ele ressussitou. Note o paralelo entre a 'alma' de Cristo e sua 'carne'. Dizer que o corpo dele "não foi deixado no sheol" implica, necessariamente, que esteve lá por um período, ou seja, os três dias nos quais seu corpo esteve na sepultura. O fato de Cristo ter ido ao "sheol" é prova suficiente que este não é um lugar para onde somente vão os ímpios.

Ainda neste linha de pensamento, podemos ver que existem outros exemplos de homens justos indo pro "sheol". Jacó disse que ele iria "descer à sepultura chorando" por seu filho José (Gen. 37:35).

Um dos princípios de Deus é que a punição para o pecado é a morte (Rom. 6:23; 8:13; Tiago 1:15). A morte é um estado de completa inconsciência. O pecado resulta em total destruição, não em tormento eterno (Mt. 21:41; 22:7; Mc. 12:9; Tiago 4:12), tão certamente quanto pessoas foram destruídas pelo dilúvio (Lc 17:27, 29), e quanto Israelitas morreram no deserto (1 Cor. 10:10). Em ambas aquelas ocasiões os pecadores morreram, foram destruídos, não mandados para um lugar de sofrimento eterno.

Como está escrito, Deus não imputa o pecado para aqueles que são ignorantes da sua palavra (Rom 5:13). Aqueles nesta situação apenas vão permanecer mortos. Aqueles que conheceram as leis de Deus vão ressussitar e serão julgados no retorno de Cristo. E a punição para os pecadores é o que foi declarado em Apo. 2:11; 20:6, ou seja, a segunda morte, a qual será de total inconsciência tal como na primeira e será para sempre. É neste sentido que a punição pelo pecado é "eterna", ou seja, permanecer mortos para sempre é uma punição "eterna". Um exemplo onde a Bíblia usa este tipo de expressão é encontrado em Deut. 11:4, onde é descrita a destruição, por Deus, do exército de Faraó no mar vermelho como durando até os dias de hoje, eterna por implicação, ou seja, que aquele exército nunca mais vai pertubar Israel. "e o que fez ao exército do Egito, aos seus cavalos e aos seus carros, fazendo passar sobre eles as águas do mar Vermelho, quando vos perseguiam, e como o SENHOR os destruiu até ao dia de hoje". Mesmo no início dos tempos do velho testamento, os crentes já entendiam que haveria uma ressurreição no último dia, após o qual os pecadores responsáveis retornariam à sepultura. Jó 21:30,32 é muito claro: "o mau é preservado para o dia da destruição e arrebatado no dia do furor... Finalmente é levado à sepultura". Uma das parábolas sobre o retorno de Cristo e o julgamento fala dos pecadores sendo "mortos" em sua presença (Lc 19:27). Deus não se agrada na punição dos pecadores; Portanto, podemos esperar que Ele não irá puní-los eternamente . (Eze. 18:23,32; 33:11 comp. 2 Ped 3:9).

Os cristãos enganados por doutrinas erradas geralmente associam o "inferno" (sheol) com a idéia de fogo e tormento. Este é um conceito que vai contra o ensinamento bíblico sobre o que é "inferno". Eze. 32:26-30 dá uma idéia dos poderosos guerreiros das nações em seu redor descansando em paz no "sheol": "os valentes que caíram dos incircuncisos (em batalha), os quais desceram ao "sheol" com as suas armas de guerra...". Isto refere-se ao costume de enterrar guerreiros com suas armas. Observe que esta é uma descrição do "sheol" - a sepultura. Observe que coisas físicas (ex: armas) vão para o mesmo "sheol" que pessoas, o que indica que o "sheol" não é um lugar de tormento espiritual. Por isso, Pedro disse a um homem pecador: "O teu dinheiro seja contigo para perdição" (Atos 8:20).

O registro da experiência do profeta Jonas também contradiz estas idéias de inferno. Tendo sido engolido vivo por um grande peixe, "orou Jonas ao SENHOR, seu Deus, das entranhas do peixe... do ventre do inferno gritei" (Jon 2:1,2). A ventre do grande peixe era realmente um "lugar coberto", o que é a essência do significado da palavra "sheol", traduzida de forma errada para inferno. Depois de três dias o grande peixe vomitou Jonas, observe o paralelo com a ida ao "inferno" de Jonas e Jesus em Mat 12:40.

Fogo Figurativo

Contudo, a Bíblia frequentemente usa a imagem do fogo eterno para representar a punição pela ira do Senhor. Por exemplo, Sodoma foi punida com o "fogo eterno" (Judas 1:7), ou seja, foi totalmente destruída devido ao pecado dos seus habitantes. Hoje aquela cidade é apenas ruínas, submergida entre as águas do mar morto; de modo nenhum ela está agora em chamas, o que mostra que não podemos ler esta figura de linguagem literalmente. Da mesma maneira, Jerusalém foi avisada do julgamento com o fogo eterno pela ira do Senhor, devido aos pecados de Israel: "então acenderei fogo nas suas portas, o qual consumirá os palácios de Jerusalém, e não se apagará" (Jer. 17:27). Visto que Jerusalém era a capital profetizada do reino futuro (Is. 2:2-4, Sal. 48:2), Deus não esperava que leiamos isto literalmente. As grandes casas de Jerusalém foram queimadas com fogo (2 reis 25:9), mas aquele fogo não continua eternamente.

Similarmente, em Is. 34:9-15 é profetizado "Nem de noite nem de dia se apagará; para sempre a sua fumaça subirá; de geração em geração será assolada; pelos séculos dos séculos ninguém passará por ela... e será uma habitação de chacais, e sítio para avestruzes ". Visto que animais vão existir neste lugar arruinado, podemos concluir que a linguagem de fogo eterno é figurativa e se refere à destruição daquele lugar devido a ira do Senhor.

As frases em Grego e Hebraico que são traduzidas em "para sempre" significam "pelo tempo(era)". Algumas vezes isto se refere á um tempo indeterminado, por exemplo o "tempo do reino" (quando Jesus voltorá e reinará por um tempo indefinido, para sempre por implicação), mas muitas vezes se refere à um tempo delimitado. Ez. 32:14,15 é um exemplo: "Ofel e as torres da guarda servirão de cavernas eternamente, para alegria dos jumentos monteses e para pasto dos gados, até que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto".

Em mais outro exemplo a ira de Deus com os pecados de Jerusalém e Israel está ligada com fogo: "Eis que a minha ira e o meu furor se derramarão sobre este lugar, e sobre os homens, e sobre os animais, e sobre as árvores do campo, e sobre os frutos da terra; e acender-se-á e não se apagará." (jer 7:20; outros exemplos são Lam. 4:11 e 2 reis 22:17). O fogo também é associado com o julgamento do pecado por Deus, especialmente no retorno de Cristo: "Porque eis que aquele dia vem ardendo como forno; todos os soberbos e todos os que cometem impiedade serão como palha; e o dia que está para vir os abrasará" (Mal 4:1). Quando a palha, ou mesmo a carne humana é queimada com fogo, esta retorna ao pó. É impossível para qualquer substância, especiamente carne humana, literalmente queimar para sempre. A linguagem do "fogo eterno" portanto não pode se referir a um literal tormento eterno. O fogo não pode durar para sempre quado houver nada para queimar. Deve-se notar também que o "inferno" é "lançado no lago de fogo" (Apo 20:14). Isto mostra que o inferno não é a mesma coisa do "lago de fogo". De forma simbólica, no livro do apocalipse, nos é contado que a sepultura será totalmente destruída, porque não haverá mais morte.

Geena

No novo testamento existem 2 palavras Gregas traduzidas para "inferno". A primeira é "hades", a qual é equivalente da palavra Hebraica "sheol". A outra é "Geena", a qual é o aterro de lixo que havia fora de Jerusalém, onde o lixo da cidade era queimado. Como substantivo próprio, ou seja, o nome de um lugar, não deveria ter sido traduzido. "Geena" é o equivalente Aramaico do Hebraico "Ge-ben-Hinnon", o qual era localizada próximo de Jerusalém (Jos 15:8), e no tempo de Cristo, era a cidade do depósito de lixo. Corpos mortos de crimonosos eram jogados sobre o fogo que estava sempre queimando lá, por isso a Geena se tornou símbolo de rejeição e destruição total.

Novamente devemos retornar ao ponto da questão de que aquilo que era jogado lá no fogo não permanecia queimando lá para sempre - os corpos se decompõe em pó. "O nosso Deus é um fogo consumidor" (Heb 12:29). No dia do julgamento o fogo de sua ira para com o pecado consumirá os pecadores para a destruição, como na Geena, não para um sofrimento eterno.

Em seus ensinamentos, Jesus juntou todas aquelas idéias do velho testamento usando a palavra "Geena". Ele geralmente dizia que aqueles que são rejeitados no dia do Julgamento, em seu retorno, iriam para a "Geena" (inferno), "para o fogo inextinguível, onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga". (Mc 9:43.44). A Gehenna teria formado na mente daqueles Judeus as idéias de rejeição e destruição do corpo, e como já demonstrado acima, "fogo eterno" é uma linguagem figurativa que representa a ira de Deus contra o pecado e a morte eterna dos pecadores.

A referência ao "verme que nunca morre", é evidentemente parte desta mesma liguagem figurativa - visto que é inconcebível que existam vermes que nunca morrem. O fato da Geena ser o local do destino final de pecadores, entre o povo de Deus, punidos anteriormente (Jer 7:32,33), mostra a coerência no uso da figura da Geena por Cristo.

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